quarta-feira, 31 de agosto de 2011

     “e por que deseja ser curandeira? Para ser respeitada? Para ganhar dinheiro? Para ter poder sobre os outros? Talvez. Mas principalmente para se aproximar da imagem da mãe, para compartilhar dos segredos da mulher que a amamentara com fartas tetas, que a embalara salmodiando cantigas de ninar num estranho idioma. Tornar-se curandeira não lhe seria difícil, porém. Sabia algumas rezas, conhecia algo de plantas medicinais; mas a mãe nunca lhe ensinara nada. Em vez disso, entrega-a a uma estranha, dizendo,’ vai, Rosa, vai para a cidade grande, será bom para ti’. E ali estava ela, tentando recuperar, à distância, conhecimentos que nunca tivera, habilidades que nunca dominara; tentando encontrar seu próprio caminho, lutando contra o desânimo que muitas vezes a invadia e que a fazia chorar horas a fio.
                                
                                       (Moacyr Scliar – Do livro “Introdução à prática amorosa”)

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